Roteiro da Boa Morte

“A visita encenada Quá Luxan Non* leva-nos numa viagem até à alma do Bairro da Boa Morte.”

Graeme Pulleyn — Encenador

 

*Expressão forro para dizer “Coisas do Nosso Bairro”

Roteiro da Boa Morte _ Costa

Sob a orientação do encenador Graeme Pulleyn, através de uma visita encenada, o Roteiro da Boa Morte pretende dar a conhecer o Bairro, fazendo uma combinação entre o teatro e a realidade do dia a dia santomense. Os guias são mediadores locais enérgicos, jovens, que contam histórias e deixam voar a imaginação, e personagens do Tchiloli – da Tragédia do Marquês de Mântua e do imperador Carloto Magno – que aparecem por detrás de casas, ou interpelam os visitantes, com todo o esplendor dos seus coloridos figurinos.

Roteiro da Boa Morte — Zona do Terreiro

A visita começa junto da Capela de Boa Morte, local de referência do Bairro e que foi testemunho de muitos e muitos acontecimentos ao longo da história, banais e extraordinários. Vamos passar pelo Embondeiro (conhecido localmente por Micondó) onde se encontra uma das quatro obras de Arte Pública que embelezam o bairro e desafiam os seus visitantes. No caminho da vaji (ou vargem), ouvimos histórias de infância passadas à beira rio. Debaixo da mangueira do terreiro imaginamos o povo a aplaudir a destreza do Moço Cata, uma das personagens mais queridas do Tchiloli. Terminamos a visita à sombra de uma magnífica jaqueira, onde os atuais residentes do bairro se costumam encontrar ao final da tarde, para trocar dois dedos de conversa e um copo de vinho da palma.

Pelo meio havemos de conhecer a Sede de Portugal, relatos da génese deste bairro e da longa tradição cultural e artística que são o seu orgulho e a sua identidade. Havemos de aprender a fazer uma bola de saco e de revisitar jogos tradicionais no Campo de Vólei. Haverá tempo ainda para conhecer o trabalho dos artesãos do bairro e provar algumas das iguarias da gastronomia local num merecido momento “leve-leve” com que terminamos a nossa visita, à sombra de uma magnifica jaqueira.

Roteiro da Boa Morte - Mapa

O percurso passa por:

    1. Capela de Boa Morte
    2. Sede de Portugal (Árvore Cultural)
    3. Micondó (Trono do Imperador Carlos Magno)
    4. Pátio Formignuinha
    5. Caminho da Vaji
    6. Terreiro (Reinaldos de Montalvão)
    7. Jaqueira (Vunga leve-leve)

Visitar

A visita encenada do Roteiro da Boa Morte tem a duração aproximada de 1:30h, e desenrola-se ao longo de um percurso circular de cerca de 1,38Km.

As visitas realizam-se para grupos de até 15 pessoas, no máximo, e têm inico junto da Capela de Boa Morte. As reservas são obrigatórias, e devem ser efetuadas previamente.

O percurso é realizado sempre a pé, por isso é recomendável que os visitantes usem calçado confortável e se previnam adequadamente contra o sol (com chapéu e protetor solar).

O preço do bilhete é 10€ por pessoa. 15% deste valor reverte diretamente para a comunidade de Boa Morte.

Toda a visita é encenada em português.

Obras de Arte Pública

A realização de uma Residência Artística dinamizada pelo artista português João Mouro em colaboração com 3 artistas santomenses no Bairro da Boa Morte (2019), traduziu-se em 4 obras de arte pública criadas a partir de resíduos urbanos. Inspiradas em elementos característicos do Bairro, estas 4 obras de arte pública integram o Roteiro da Boa Morte ajudando os visitantes a “mergulhar” em diferentes dimensões da vida das pessoas e do bairro.

Reinaldos de Montalvão

Falar do Bairro da Boa Morte, é também falar de Tchiloli, que não se compreende na sua plenitude sem notar um dos seus personagens mais carismáticos, Reinaldo Montalvão. Esta personagem fictícia da literatura Medieval é trazida para um contexto Santomense através do Tchiloli, onde, apesar de lhe serem atribuídas poucas falas, é das figuras que mais interage com o público.

Reinaldos de Montalvão, 2019
Escultura Com Ferro Recolhido No Bairro De Boa Morte
1.80 × 50 × 50 Cm;
Geane Castro, Outubro De 2019

Árvore-Cultural

São Tomé, além das suas gentes, é também a sua natureza. Partindo desta premissa, o autor optou por uma árvore como símbolo que expõe a cultura nacional, vindo as ramificações representar a diversidade cultural existente no país. A flauta entrelaçada na obra vincula a presença do Tchiloli no Bairro.

Apesar do seu carácter urbano, as árvores são uma constante de quem vive o Bairro da Boa Morte.

Árvore-Cultural, 2019
Escultura Em Pneu Reciclado E Parafusos
1,70 × 135 × 135 Cm; Pintada De Cor Preta
Gualter Lopes, Outubro De 2019

Trono do Imperador Carlos Magno

Demilson Tavares e Nilton Oliveira — Outubro 2019

O Tchiloli, ou “tragédia”, é uma manifestação cultural singular de São Tomé e Príncipe. Na hierarquia encenada, o Imperador Carlos Magno surge como a mais importante figura, encontrando-se, naturalmente, num trono. Recriar este trono é destacar o princípio de Justiça, de que carece tanto o mundo, numa referência ao Tchiloli.

Trono do Imperador Carlos Magno, 2019
Escultura em Pneu Reciclado
175 × 110 × 110 cm
Demilson Tavares e Nilton Oliveira, Outubro 2019

Vunga Leve Leve

João Mouro — Outubro de 2019

Na vida há pêndulos. Movimentos para a frente e para trás, e de um lado para o outro. Uns mais stressantes, outros mais relaxantes. Baloiçamos com o vento e com as que nos parecem as nossas prioridades. A comunidade baloiça ao seu ritmo, e assim vai evoluindo – a vida não é estática.

A comunidade balanceou-se para a construção desta harmonia em movimento. Através da Escola Básica de Boa Morte, 10 crianças deram a sua ajuda a edificar esta obra, com pinturas na madeira e apontamentos em pneu reciclado. Esta obra também é da autoria destas crianças, também é da autoria das pessoas do Bairro. É uma obra comunitária.

Vunga Leve Leve, 2019
Escultura em Ferro, Pneu e Madeira
300 x 190 x 180 cm
João Mouro, Outubro de 2019

Artesãos Locais

O Bairro da Boa Morte reúne um conjunto de artesãos que trabalha para manter viva a cultura material Santomense.

Anselmo e Rita — Ponte da Graça, Bairro da Boa Morte

Em complementaridade com o desenvolvimento e implementação do Roteiro da Boa Morte, desenvolveu-se uma intervenção dinamizada pelo Arquivo 237 que permitiu capacitar artesãos e comerciantes para o desenvolvimento de novos produtos através de técnicas já existentes.

Fabrico de raladores em alumínio — Ponte de Graça

Fabrico de raladores em alumínio — Ponte de Graça

Carpintaria Doméstica — Bairro da Boa Morte

A participação de diferentes Artesãos Locais no Roteiro da Boa Morte promove a valorização do património material da Boa Morte e permite aproximar os pequenos comerciantes de quem o visita.

Brinquedo de criança — Bairro da Boa Morte

Tchiloli

Como mescla de influências europeias e africanas, o Tchiloli tem por base o texto de origem medieval atribuído ao dramaturgo madeirense Baltazar Dias (1540) — A Tragédia do Carlos Magno e do Marquês de Mântua. Este teatro popular cruza dança e música a partir de uma cenografia que expressa a complexidade da identidade cultural Santomense.

Tchiloli Formiguinha — Anos 70

Tchiloli Formiguinha — Anos 70

O grupo Tchiloli Formiguinha da Boa Morte nasceu em 1956, fruto da vontade dos “tios” — quatro irmãos da família Carvalho — cuja presença ainda se sente no espirito de rigor e força performativa deste grupo, determinado a manter viva uma herança que se transmite tradicionalmente no seio das famílias. É amplamente reconhecido no plano internacional, apresentando múltiplas atuações em Portugal nos anos 70 e 90 e graças ao financiamento da Fundação Calouste Gulbenkian, atuou também na Maison des Cultures du Monde, em Paris, já nos anos 2000.

Tchiloli Formiguinha — Anos 70

Paralelamente ao trabalho desenvolvido com o Grupo de Tchiloli Formiguinha da Boa Morte e a partir de levantamento dos Grupos de Tchiloli em S. Tomé fez-se mobilização dos mesmos para a participação numa dinâmica colaborativa e em rede, que se concretizou na Rede Nacional de Tchiloli.

Tchiloli Formiguinha — Anos 70

Tchiloli Formiguinha — Workshop dado pelo Teatro Viriato

Sobre nós

Desenvolvendo-se em redor de uma estrada com mais de 3km, o Bairro da Boa Morte fica a menos de 1 km do centro da cidade de São Tomé e, apesar de localizado na periferia da capital, as casas do Bairro surgem rodeadas de natureza.

Os mais de 6.000 habitantes refletem a heterogeneidade social da Boa Morte e dedicam-se maioritariamente à prestação temporária de serviços e ao comércio informal (quitandas, quiosques e vendas de rua) dinamizados na sua maioria por mulheres.

A riqueza cultural do Bairro da Boa Morte (diversidade étnica, organização territorial e património cultural e artístico) tornam-no num reflexo dos costumes, dos hábitos e das riquezas do povo Santomense.

Realizado no Bairro da Boa Morte e promovido pelos Leigos para o Desenvolvimento, o Roteiro da Boa Morte é um projeto que parte de dinâmicas comunitárias já existentes e tem como objetivo recriar o território, capitalizando a cultura, as tradições e o comércio locais, contribuindo para melhorar a imagem interna e externa do Bairro.

No seguimento desse trabalho, pretende-se que o Roteiro da Boa Morte se assuma como referência para as indústrias criativas e para o turismo urbano Santomense.

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